18.2.09

+ 10 a fios

O Senhor Ministro lançou-me um desafio. Mandou-me um texto a partir do qual eu tinha de inventar. Ora cá vai:

"Havia um homem que era muito senhor da sua vontade. Andava às vezes sozinho pelas estradas a passear. Por uma dessas vezes viu no meio da estrada um animal que parecia não vir a propósito — um cágado. (...) Nunca tinha visto um cágado; contudo, agora estava a acreditar. Acercou-se mais e viu com os olhos da cara que aquilo era, na verdade, o tal cágado da zoologia." In: “Ficções” - José de Almada Negreiros

“Mas que raio faz um cágado sozinho no meio da estrada?” – pensou. Aproximou-se. E o cágado, que caminhava lentamente no seu passo de cágado, parou e recolheu-se na sua carapaça. O homem, que era senhor da sua vontade e nunca tinha visto o tal cágado da zoologia, questionou-se se aquilo seria mesmo o tal cágado. Acercou-se e, talvez por pensar que o cágado lhe responderia ou talvez porque era tão senhor da sua vontade e seguisse sempre os seus ímpetos, perguntou ao cágado o que estava ali a fazer. “Estava à tua espera, que achas?” – respondeu o quelónio de dentro da sua carapaça, com uma voz quase feminina e trémula. O homem, o tal senhor da sua vontade, que nunca tinha visto um cágado, o tal da zoologia, não estranhou que o réptil lhe respondesse sendo, segundo os livros, animal irracional. “À minha espera? Como sabias que viria? Podia não ter vontade! E se me esperavas, porque te escondes agora?” – retorquiu.
Desta vez fez-se silêncio. Teria sido imaginação sua, a resposta do cágado? Então o senhor da sua vontade inclinou-se, apanhou o cágado e espreitou pelo abertura da carapaça. Que viu ele? Uma jovem esbelta, completamente nua, que lhe acenava com um sorriso de sereia.
Seria mesmo verdade, ou teria sido tudo fruto da sua vontade?

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