28.1.05

O Sótão



Estava num sótão, velho e bolorento. Uma aranha passeava-se a um canto, procurando o sítio ideal para tecer a sua teia. Começou o seu trabalho, e num ápice a teia estava pronta.
E eu observava.
Uma mosca entrou, por uma abertura na madeira velha e podre do sótão, velho e bolorento. Sem saber o destino que a esperava. A aranha observava, sem mover uma pata, no seu canto do sótão, velho e bolorento. A mosca estava feliz, esvoaçava por ali, sem saber o seu destino, no sótão, velho e bolorento. Aproximava-se da teia, a aranha esperava. Tinha tempo, muito tempo, durante a sua curta existência o instinto de sobrevivência dizia-lhe que tinha que esperar, no sótão, velho e bolorento. Sentia a presença da mosca que esvoaçava, mas não se podia mexer. A mosca viu a teia, no canto do sótão, velho e bolorento. Que atracção, que atracção, que seria aquilo que a atraía tanto, no canto do sótão velho e bolorento em que acabara de entrar sem saber muito bem porquê.
E eu observava.
Aproximou-se mais, e mais, e mais, era irresistível, algo lhe dizia para se afastar, mas não conseguia. Era a magia do sótão, velho e bolorento. A aranha esperava, paciente no seu canto. A mosca aproximou-se mais, tarde demais, estava presa, não podia fugir. A aranha aproximou-se, devagar, sem pressa, já não havia pressa, a espera tinha valido a pena, naquele sótão, velho e bolorento.
Deixei de observar.
Mas fiquei ali sentada, no sótão, velho e bolorento. À espera.



Sem comentários: